Gastronomia

A culinária tradicional continua a preservar as formas de confecção transmitidas desde um passado longínquo. Os principais pratos são: arroz n’tsoro, mapira, mele, nakuwo (milho), djampa (arroz de milho). Molhos como caril de castanha, tokosadu de peixe, de carne, de galinha, mwalaku ofumariya (galinha defumada), galinha assada, nimino (prato de peixe misturado com batata-doce ou mandioca), nikhotonkoro (prato de feijão nhemba misturada com batata doce ou mandioca), mathapa siri-siri (caril preparado a base de uma erva que predomina nas regiões costeiras), ntikwa (caril de folhas de mandioqueira), doce de abóbora, maheu (bebida fermentada de milho ou arroz).

Destes pratos, os únicos que são tipicamente nahara são os caris de castanha e a matapa de siri-siri. Os restantes só se diferenciam no modo de confeccionar e na quantidade e qualidade de temperos adicionados ao prato. Note-se que a grande convivência dos nahara com povos vindos de diferentes regiões do mundo, mais concretamente da Europa e da Ásia, trouxe à culinária novos empréstimos que juntaram novos sabores aos pratos locais. São estes empréstimos os temperos guardamungo, pimenta preta, folhas de louro, cravinho, massala (mistura de temperos), rajá (mistura de temperos), piripiri, coentros, etc.

Culinária tradicional
Senhora a vender comida caseira

Para alguns pratos típicos, a preparação varia em função da época. O nimino, por exemplo, uma vez preparado à base de mandioca, o período ideal para a confecção, vai de Março a Julho e o doce de abóbora só pode ser confeccionado no período em que pode ser colhida na machamba, sendo o tempo apropriado de Março a Julho. Todos os pratos são consumidos diariamente, havendo apenas a distinguir o momento das celebrações como casamentos ou cerimónias (osinkiya ou Ide), onde predomina o consumo de carne, seja ela de vaca, de galinha ou de cabrito. Com efeito, é comum afirmar-se que um casamento sem carne não é casamento.

Os alimentos são geralmente confeccionados pelas mulheres, jovens ou adultas. Quanto ao servir é normal que a mãe, dona de casa, sirva os membros da família, uma vez que ela conhece a quantidade e a qualidade de alimento a proporcionar a cada um. 

Famila a disfrutar refeição

Durante a refeição o pai, chefe de família, fica num lugar à parte, geralmente numa mesa, na sombra do quintal. Caso o casal tenha filhos crescidos (com idade acima dos 15 anos) estes podem também sentar-se à mesa com o pai. O mesmo acontece quando se recebe um visitante. Este sentar-se-á à mesa junto com o dono da casa. A mãe come com os filhos normalmente numa esteira. Também, caso haja uma visitante, esta se acomodará junto com a mãe e as crianças, na esteira.

De que se compõe a refeição típica (almoço ou jantar) dos macua nahara? Fazem parte da refeição: um cereal (karakata – farinha de mandioca ou nakuwo – farinha de milho) ou um arroz, um caril que pode ser de peixe, de feijão, uma mathapa (caril de folhas) e um acompanhante (que pode ser um peixe frito, uma carne ou outra coisa diferente do caril).

Mulher a vender comida caseira

Os nahara têm a tradição de bem comer e isso se traduz na confecção de mais de um caril para uma única refeição. Por dia consomem-se três refeições: o chamado mata-bicho, o almoço e o jantar. O mata-bicho toma-se de manhã e é simples, normalmente composto por papas de milho com açúcar ou chá acompanhado com pão e badjia (bolinhos salgados feitos com farinha de feijão ekuthe). 

Embora não seja específico dos nahara, um aspecto notável é a maneira como se confecciona e se consome a karakata ou o nakuwo. Jamais estes dois alimentos podem ser consumidos frios porque se acredita que a comida fria não alimenta. Quando chega a hora da refeição sem que o marido ou outro membro da família esteja em casa, e o nakuwo arrefece, deita-se fora. Por causa da maneira como os nahara encaram o consumo da farinha, ela é preparada somente quando o marido ou outro membro da família chegam. Isto se repete quantas vezes for necessário.

Algumas Receitas
Matapa ou Matapinha

É outro prato típico e símbolo da gastronomia local, que combina bem com outros produtos. Quem vier à Ilha não pode deixar de degustar a matapa aqui confecionada, feita a partir de uma alga muito apreciada, o siri-siri. Trata-se de uma mistura da própria matapa de siri-siri, com molho de coco, castanha, alho, folha de louro e cebola. Matapa é um prato ou refeição normal, enquanto a Matapinha é um petisco normalmente apresentado numa pequena taça.

Caril de castanha

Para a confecção deste prato, primeiro coze-se a castanha muito bem em água e sal e reserva-se. De seguida, leva-se uma panela ao fogo com um pouco de óleo, refoga-se a cebola, o tomate e o alho junto com os temperos. Depois, acrescenta-se a castanha e deixa-se ferver algum tempo. Adiciona-se de seguida o leite de coco da segunda extracção. Mete-se no caril a manga seca depois de bem lavada e amolecida em água. Já quase no fim da cozedura, adiciona-se o leite grosso de coco (corresponde à primeira extração do leite), deixa-se apurar por alguns minutos. Rectifica-se o sal e está pronto para ser servido. Este prato é acompanhado com arroz ou xima branca.

Arroz de milho

Mergulha-se o milho em água fria, tira-se de seguida e pila-se para separar a película do farelo. À medida que se pila, vai-se fazendo pausas para se peneirar e se continua a pilar e a peneirar até que o milho esteja totalmente limpo. Após a obtenção do milho limpo, continua-se a pilar até que os grãos obtenham o formato de arroz. Geralmente o processo pode requerer que se pile o milho 3 vezes e se peneire, para a obtenção do arroz de milho.

Djampa

Lava-se o arroz de milho, e coloca-se na panela com leite de coco e leva-se ao fogo e deixa-se ferver até estar prestes a cozer. Lava-se o feijão e adiciona-se ao arroz de milho e acrescenta-se água previamente fervida, deixa-se ferver até acabar a água. Depois que a água seque, junta-se  o leite de coco denso (primeiro leite), o sal e deixa-se ferver em fogo brando até secar o leite. Por fim, retira-se do fogo e está pronto para servir acompanhado de qualquer tipo de molho.

Nikhotonkoro

Prepara-se o leite de coco conforme a receita e reserva-se em separado o leite denso. Coloca-se numa panela o feijão nhemba com água e deixa-se ferver, a meio da cozedura, adiciona-se a mandioca, leite de coco da segunda extracção, água e o sal, para que o feijão e a mandioca cozam juntos. Por fim coloca-se o leite de coco denso e deixa-se apurar e amassa-se. Serve-se acompanhado de tomate assado moído e misturado com piri-piri e galinha assada ou ainda acompanhado por uma salada. Note-se que, quando o feijão é fresco, coze-se o feijão e a mandioca em simultâneo.

Doce de banana

Descasca-se a banana, corta-se ao comprido e frita-se em óleo quente e reserva-se. Numa panela, coloca-se o açúcar, leva-se ao fogo e deixa-se derreter até obter calda. De seguida, junta-se a banana à calda e deixa-se ferver em lume brando para ligar. Retira-se do fogo e deixa-se arrefecer. Serve-se frio.